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Foto do escritorFlávio Gouvêa de Oliveira

Quem precisa terapia?



Às vezes parece que o mundo está todo louco e só a gente é normal, e às vezes parece que só a gente é louco e todo mundo é normal. Já se sentiu em algum desses polos?

Mas, como dizia o ditado: “de médico e louco, todo mundo tem um pouco”; ou então: “de perto, ninguém é normal”.


Mas o que é ser “normal”?


Ter uma resposta a essa pergunta não é nada fácil. O Simão Bacamarte que o diga!


Sabe quem é Simão Bacamarte?


Ele é o protagonista de um conto muito divertido de Machado de Assis, chamado “o alienista”. Simão era um alienista, que era o nome dado aos médicos que tratavam de doenças mentais em meados do século 19. Ele chega na cidade de Itaguaí com a ideia de criar um hospício para recolher e tratar os loucos da cidade. As autoridades aceitam a ideia e, no começo, todo mundo gosta de ideia de ele recolher as pessoas da cidade que já eram reconhecidas como “doidos varridos”. Entretanto, conforme ele vai se aprofundando em seus estudos, também começa a considerar loucura outros tipos de atitudes mentais e levando essas pessoas à sua “Casa Verde”. Tudo vai ficando tão exagerado que ele começa a considerar loucura qualquer desvio moral e até mesmo quem apenas discorda dele. Chega um ponto em que praticamente toda a cidade está presa na Casa Verde e só ele pra fora. E então ele chega a uma conclusão muito interessante: se só ele é normal, então o normal é ser louco; aí ele solta todo mundo e se prende na casa, diagnosticado como “louco por ser normal”.


Nesse texto, Machado de Assis satiriza exageros do início dos estudos sobre a mente, e continua sendo uma sátira a como muitas pessoas ainda enxergam os problemas mentais atualmente. Ainda bem que muita coisa evoluiu de lá pra cá, de modo que as áreas de estudo da mente já trazem abordagens e técnicas bem mais humanas e eficazes.


Entre elas está a psicanálise, que tem uma abordagem muito interessante e integrativa sobre os transtornos da mente. Segundo ela, esses transtornos não são apenas problemas que precisam ser corrigidos, ou uma falha que precise ser consertada para que a pessoa volte ao normal; na verdade, o que é chamado de transtorno faz parte das adaptações que a pessoa fez ao longo de sua vida pra lidar com seus conflitos.


Assim, os conflitos pelos quais a pessoa passa - e o modo como ela lida com elas – também faz parte de sua humanidade, de seu modo de ser.


Esse nosso trabalho mental pra lidarmos com nossos conflitos começam bem antes de podermos racionalizá-los e geralmente se mantém em nosso inconsciente. E mesmo quando se tornam conscientes, isso acontece por meio de representações e atitudes que geralmente são confusas pra própria mente consciente. É nessa hora que sentimos que algo está errado conosco.


Todo mundo passa por esse tipo de processo e, sendo assim, todos têm alguma neurose em maior ou menor grau e com maior ou menor necessidade de cuidados especiais, de acordo com as consequências dessas neuroses. Por isso, fazer terapia é algo muito recomendado pra todo mundo.


Como isso, quero destacar dois pontos importantes:


1.      É normal não ser normal (seja lá o que “normal” quer dizer). Procure se entender, a psicanálise vai lhe ajudar muito nisso.

 

2.      Terapia não é coisa de doido, como dizem pejorativamente. Terapia é coisa e quem quer se conhecer mais profundamente, que reconhece suas limitações e quer trabalhar em si mesmo de dentro pra fora.

 

Então, já que “de médico e louco todo mundo tem um pouco”, vou encerrar com a frase do pai da medicina, Hipócrates:


“É mais importante conhecer a pessoa com a doença do que a doença que a pessoa tem”.


Conheça-se melhor, conheça melhor as pessoas de quem você cuida e que cuidam de você.


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